terça-feira, 1 de setembro de 2015

Conceitos... como não tê-los?

Tem tanta gente "enchendo o saco" para rever conceitos que andei pensando na abrangência do movimento. Parar de comer carne, por exemplo. Uma galera raivosa acha que já deu a estadia no topo da cadeia alimentar. Temos que voltar atrás um passo para deixarmos de ser assassinos. Assassinos? Peralá! Será que eles não estão pegando um pouco pesado demais?
E se a gente fizer um paralelo com ter filhos? Para mim, é tão natural quanto comer carne. Natural, no sentido de faz parte da natureza humana. Somos carnívoros e procriamos como tantos outros animais, para dar continuidade à espécie. Mas enquanto comer carne está quase se tornando um crime, procriar é lindo. Ter filhos é maravilhoso, todo mundo apoia, incentiva e estranho é o ser, principalmente a mulher, que não está a fim de assumir essa responsabilidade. Que é monumental. Mas ninguém parece se dar conta disso.
A vida do boi no matadouro é muito mais importante do que a vida de milhares de crianças que nascem todos os dias de pais ineptos, relapsos, violentos, sem o menor preparo para se responsabilizar (no sentido literal da palavra) durante muitos anos, por uma vida humana. Mães e pais tem "sorte" quando os filhos são bonzinhos ou educadinhos, ou "azar" quando o moleque vira um marginal sem vergonha. Fácil, né? Responsabilidade, necas! Claro que tem campanha para criança não apanhar e não passar fome, mas isso é o extremo da desumanidade. E esse monte de criança mal-educada? Aí não é um problema de verdade.
Conceitos são coisas difíceis de abandonar. Quase impossíveis de mudar, quando estão arraigados há tanto tempo numa consciência coletiva. Muita gente está jogando pedras no vizinho sem avaliar seu próprio quintal. "Ah, mas vou ensinar meu filho a ser humano, não tirar nenhum tipo de vida para o seu prazer." Ok. Está disposto a ensinar a dizer obrigado? Tem forças para se despir de qualquer preconceito que a sua geração aprendeu de sobra para que essa criança aceite como iguais todos os tipos de pessoas? Vai ser um ser humano que respeita autoridade? (ela sempre vai existir em sociedade e tem seus méritos, sim). Ou o resultado vai ser um vegano tão babaquinha quanto tantos outros jovens, que se acham criança índigo, especial, one of a kind, mas não juntam uma meia do chão e acham que seu primeiro emprego tem que ser como CEO?
É... São muitos e muitos anos de responsabilidade. Um trabalho bem grande para colocar mais gente em um mundo que não precisa em absoluto de mais gente. Para aumentar a quantidade da única espécie que é nociva à natureza. Para quê? Para você se sentir completa(o)? Ou porque é natural?
Então, para muita gente comer carne é tão natural quanto. E enquanto muitos lutam pela causa dos animais, muitos outros criam filhos de forma cada vez pior.
Ontem eu estava andando na rua e um pouco à minha frente tinha uma moça num vestido super curto e esvoaçante, meias finas e botas de cano alto. Também à minha frente iam dois rapazes, claramente voltando do almoço para o trabalho. A forma como eles olharam fixamente para a "parte traseira" daquela moça foi muito intensa (ela estava de costas e não viu nada). E essa é uma situação que eu vejo nas ruas todos os dias. E se você pensou "Mas o vestido não era curto? Ela queria chamar a atenção mesmo", você é uma das pessoas que vai criar pessoas que não respeitam as mulheres. Conceito. Um dos mais antigos da humanidade de que os homens são donos das mulheres. Muita gente luta para mudar isso, mas muito mais gente aceita essa condição e, pior, finge que é moderno e que não tem um pingo de machismo na cabeça.
Sei...
Quer um ótimo exemplo prático? Há anos meu noivo tenta me convencer a fazer um processo com as roupas brancas dele para desencardir tudo. Tem que esquentar água, misturar sabão e álcool, deixar de molho, sei lá. Um processo que eu nunca fiz porque minhas roupas não ficam encardidas. Há anos eu digo para ele "que bom que funciona! pode fazer sempre que você quiser". E ele fica me olhando com aquela cara. Na cabeça dele, como eu lavo a roupa, tenho obrigação de cuidar das necessidades especiais das roupas dele. Na minha, eu lavo a roupa dele como eu lavo tudo. Jogo na máquina e sai do jeito que sair. Eu não tenho roupa encardida. Portanto...
O acúmulo das pequenas concessões, para mim, é muito mais nocivo que uma grande causa. Repensar só os conceitos que são desconfortáveis para você, sem pensar no todo, também é bem perigoso. O mundo nunca vai ser um lugar exclusivamente de veganos praticantes de ioga. Mas ele deveria ser, sim, um lugar onde as pessoas abandonaram os preconceitos contra outros seres humanos, onde ninguém se acha no direito de tomar nada de ninguém, e onde se cresce e evolui pelos próprios méritos e curiosidade. Esse, para mim, seria o mundo ideal e muita gente vai dizer que é utopia.
Mas esse também é um conceito que é diferente para cada um de nós.



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