terça-feira, 3 de março de 2015

Tudo para dar errado...

Como já diria o bom e velho Marshall, "o meio é a mensagem". E lá vou eu elucubrar novamente sobre os fenômenos do Facebook, não tão bom e nem tão velho.
Acho que muita gente da minha idade passou, pendendo para um lado ou para outro, os perrengues da explosão da informação. Eu, que caí na bobagem de querer ser jornalista e verbalizei isso para o mundo, passei muito tempo ouvindo do meu pai "mas você sabe o que está acontecendo no Kwait, não sabe? Não??? Você não viu no jornal???? Como você não vê jornal???? Que raios de jornalista você vai ser?????". Ao que eu sempre respondia: quando foi a última vez que você leu um livro, papito?
Para mim, opinião pessoal claro, cultura sempre foi mais importante que informação. É claro que não adianta ser culto e alienado, mas sempre achei um absurdo uma pessoa ter a necessidade de saber tudo que está acontecendo, o tempo todo.
Primeiro porque é impossível. Segundo porque é inútil. Terceiro porque enlouquece,
E é desse último efeito que eu tenho medo com a facebookização da vida. As pessoas ficam trocando "informação" a uma velocidade monstro e a leitura das janelinhas (porque eu tenho uma desconfiança razoavelmente forte de que a maior parte não lê o texto todo nunca), vai criando um monstro na cabeça das pessoas.
Por exemplo: se eu for acreditar no meu Facebook, ou no que ele me alimenta diariamente, as pessoas estão cada vez mais maltratando os animais, ou seja, estão piorando; os governos estão cada vez mais roubando nosso dinheiro na caruda, ou seja, nossa vida está piorando; as mulheres agora, além de tudo, têm que passar por horas de parto normal para serem mães de verdade, ou seja, eu que tenho um medo danado de sentir dor estou piorando; e todos os meus amigos vão para o exterior a cada seis meses e são felicíssimos, ninguém mais tem problemas, ou seja, minha vida tá uma bosta!
Tenho que admitir que faço uma força danada para não acreditar. Para exercer um direito que nunca foi tão importante na vida como agora, o direito de filtrar o que me serve, o que me parece real e coerente. Tenho que admitir também que continuo um pouco "alienada", no mesmo sentido que meu pai acreditava que eu fosse. Não fico lendo notícia toda hora. Não sei exatamente a cotação do dólar. Não acreditei no discurso da mulher antes, então não estou tão chocada agora. Mas os ciclos são muito maiores do que se imagina e a catástrofe que tantos temem tanto pode estar sendo construída exatamente pelo medo da catástrofe e não por esses "pedaços" de tragédia.
Filtro. Muita gente não tem e isso me preocupa bastante. As prioridades estão tão confusas que eu não vejo nenhum tipo de denúncia de verdade na rede há muito tempo. A preocupação agora é com a Copa Davis dos partidos, quem come carne e quem não come e a cor do vestido.
Não tem tudo para dar errado?

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